« Uma vantagem assinalável destas máquinas é a constante vigilância que elas exercem sobre a distracção, a neglicência e a preguiça do homem »

Charles Babbage, Tratado sobre a economia das máquinas e das manufacturas, Paris, 1833

« We Kill People Based on Meta-Data »

–Michael Hayden,2014

« The threat is terror as well as error »

Martin Rees, 2012

« Either we're going to decide not to do this, and have an international agreement not to do it, or it's going to happen. »

Marc Gubrud, 2013

A ideia de « risco tecnológico » surgiu em 1945, quando um grupo de génios da época inventou a bomba atómica. Alguns deles foram também responsáveis pela cibernética pioneira, pela inteligência artificial e pela ciência informática, que nos dominam e ameaçam nos dias de hoje.

Cientistas de vários horizontes, investigadores, jornalistas, peritos, investidores e activistas, todos concordam que o actual desenvolvimento tecnológico constitui, mesmo a curto prazo, uma ameaça à espécie humana. Muito frequentemente, a referência cultural para falar deste tema é “O Exterminador Implacável”, filme de James Cameron realizado em 1984.

William Wisher, co-escritor do filme, em conjunto com Cameron, confessou numa entrevista recente que se inspirou no trabalho da DARPA, a agência de desenvolvimento tecnológico de defesa americana para escrever o argumento do filme.

Etimologicamente a palavra robot – introduzida em R.U.R., peça de ficção científica dos anos 20 escrita pelo checo Karel Capel – tem origens eslavas e refere-se a um « servo » ou a um « trabalhador ».

Actualmente deveriamos ser apelidados de robots neste tipo de feudalismo contemporaneo...

A indústria da distracção

De Reagan até Schwarzenegger, ambos actores famosos tornados governadores, a fusão entre entretenimento e a política sempre foi uma realidade integrada na California.

« O entertenimento faz parte da nossa diplomacia Americana »

disse Barack Obama em 2013, durante um encontro no quartel-general da DreamWorks , uma produtora com um dos maiores estúdios americanos de cinema e entertenimento e simultaneamente uma das maiores doadoras da última campanha presidencial de Obama.

Por isso quando a Wikileaks publicou milhares de documentos diplomáticos confidenciais

coube à Dreamworks produzir The Fifth Estate, um thriller baseado nos factos controversos relacionados com a revelação de milhares de ligações diplomáticas secretas.

Entretanto Julian Assange, o rosto mediático relacionado o fenómeno Wikileaks, não está de todo descontente com a sua personagem nos Simpsons:

« Quando os Simpsons fazem qualquer coisa contigo não pode ser completamente mau. »

Julian Assange,2013

Pouco tempo passado e já Edward Snowden, o agente da NSA (Agência Nacional de Segurança americana) que recentemente pôs a boca no trombone em relação aos esquemas e ao alcance de vigilância da dita agência , e que agora passa a vida no interior dum robot de tele-presença,

inspirou um livro, cujos direitos de adaptação cinematográfica foram imediatamente comprados pelos produtores de James Bond

A CIA, que durante a Guerra Fria dos anos 50 e 60 usou a arte moderna como arma ideológica contra a USSR,

aprovou em 2012 o argumento do filme que narra a captura de Osama Bin Laden, produzido por Megan Ellison, filha dum dos magnatas de Silicon Valley, zona californiana conhecida pelas indústrias desenvolvimento tecnológico, e que recentemente comprou o franchise de The Terminator.

« Estamos a construir o Homem-de-Ferro »

declarou também o presidente americano, desta vez durante um congresso sobre inovação. O que acontece é que, não só Hollywood é a maior empresa de exportação americana como o cinema e a inovação tecnica-militar parece trabalhar ombro a ombro.

Hollywood tem uma longa história de receber estímulos e apoio logístico de vários sectores do exército dos Estados Unidos: por exemplo, o laboratório ICT fundado por militares, é frequentemente premiado pela qualidade dos seus efeitos especiais em filmes de acção.

We are the robots

[ foto:"Liquidadores em Chernobyl",1986 ]

Se a imagem musculada do Super-Homem é frequentemente associada a personagens cyborg ficcionadas , Jéremie Zimmermann, um defensor das liberdades na internet, assinala, num artigo de Maio de 2014 que estamos actualmente a viver uma era cyborg:

« Funções básicas dos nossos corpos, tais como comunicar, recordar, reconhecermos-nos, as nossas memórias pessoais e partilhadas e a maior parte dos nossos trabalhos são agora inseparáveis das funções das máquinas. »

A vigilância tornou-se comum à necessidade da população de tudo registar, tornando-nos assim a todos empregados voluntários das corporações californianas, que estão actualmente a construir um Império com o conhecimento e a informação que lhes fornecemos, ou, por outras palavras, que nos retiram à nossa privacidade.

« Os Jetsons deram-nos o sonho dum robot desenhado para nos ajudar. o Exterminador deram-nos o pesadelo duma máquina desenhada para matar. Aparentemente o futuro está aqui »

CNN, 05.14.2014

330 anos após o filme, a Google adquiriu as máquinas de guerra da DARPA, ao mesmo tempo que uma campanha contra os « robots assassinos », lançada pelo Professor Noel Sharkey, está a iniciar um debate nas Nações -unidas, na presença de representantes de todos os países, solicitando a possibilidade de os banir.

A Google torna-se assim Skynet, o antagonista de O Exterminador Implacável, uma máquina criada pelo homem que luta pelo domínio do planeta .

Vivemos agora num mundo onde as pessoas são assassinadas à distância baseado na sua meta-informação.

Do Capitão América ao Toy Story, do Apelo do Dever ao Assassinato Colateral, do Exterminador à Google, a fronteira entre a (des)aprovação e a apatia, informação e entertenimento, jogos de vídeo e crimes de guerra, privacidade e vigilância, alucinação e realidade está a desaparecer.

As formas de inteligência artificial que hão-de vir, tal como as corporações as estão a desenhar, irão necessitar de cada vez menos seres humanos, e apenas do mais aptos, mais previsiveis e melhor entertidos. Ou como Bill Joy disse em 2000:

« O futuro não precisa de nós ».